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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Grupos anônimos, grupos de afinidade, grupos ...

No final do ano de 2007 eu perdi minha grande amiga Monica - que Deus a tenha - e desde entao passei a sofrer de pressao alta. Na verdade tenho picos quando abuso do sal ou passo por emoçoes fortes, sejam elas boas ou ruins.

Lembro de ter procurado um cardiologista na época, pois os picos de pressao alta estavam me atrapalhando no trabalho - que ja era estressante por si só, lidar com dinheiro dos outros nao é facil.

Minha pressao nunca passara dos 11 x 7. Apesar de 14 x 9  ser considerado "normal" pra quem ja convive com o problema, pra mim era impossivel de trabalhar de tanto que a cabeça explodia.

Ao fazer um dos muitos exames - um ultrassom do coracao - fiz uma pergunta pro médico que me examinava. Apenas a luz do monitor nos iluminava, o que deu ao ambiente um ar de confessionário.

Era a primeira vez que eu admitia que a perda da minha amiga ainda me doía.

- Doutor, tristeza mata ? - e as lágrimas começaram a escorrer no meu rosto.
- Olha, pode fazer você adoecer sim ... - respondeu, ajeitando os óculos por traz do rosto jovem. - Eu nao sei o que te aflige, mas uma vez eu ajudei um cego a chegar a estaçao de metrô e ele me contou a história dele:

" - Nao sou cego de nascença. Perdi a visao na minha adolescência e no começo quase enlouqueci. - declarou o cego.
- E como fez para superar isso ? - perguntou o médico de braços dados com ele.
- Grupos de pessoas que estao passando pelo que eu passei. A gente troca experiências, dá risadas até ... o importante é saber que nao estou só nessa luta ..."

E o que isso tem a ver com a minha vida na Turquia ?

Tudo. Lembro que logo que cheguei nao procurei grupo nenhum. Nem brasileiros. Lembro de uma pessoa ter me contatado antes deu vir e até hoje somos amigas. Mas ela mora longe da minha cidade uns 700 km ou mais.

Depois contatei grupos, brasileiros ... foi - e ainda é -  realmente importante pra trocar experiências, dicas, rir da própria desgraça. E saber que nao sou a única que passa pelo que passo.

Mas existe um efeito colateral nessa história do qual me deram um toque: a maledicência crônica.

Criticar o que te faz mal, o que nao esta de acordo com o que você aprendeu no Brasil a todo momento causa um estrago danado. Um sentimento de desesperança sem igual ... nao adianta ficar "metendo o pau" na familia do marido, nas interferencias deles, nos costumes deles o tempo todo. Afinal, queira você queira nao, é sua nova familia aqui na Turquia.  Aqui é sua nova casa, ao menos é a minha.

Desabafar é uma coisa, e uma coisa necessária, crucial até. Destilaçao de veneno é outra bem diferente e envenena a própria alma.

Ontem sai pra trocar idéia com uma amiga estrangeira que comentou que tinha pesadelos com o que ia cozinhar pro marido no dia seguinte logo no começo do casamento deles. Eu também passei por problema semelhante recentemente com um membro da familia do meu marido me enchendo o saco pra aprender a cozinhar a comida deles. Faço qualquer coisa, mas nao faço nada forçada. O grau de exigência que eles mesmos fazem com eles é alto no quesito cozinha. Se você é convidado pra jantar na casa de um turco, tenha a certeza de que a mulher ficou o dia todo cozinhando pra você. E quando você for o anfitriao, vao esperar o mesmo de voce - comida turca, lógicamente.

A culinária turca é rica, mas infelizmente eu e ela somos incompativeis. Ja fiquei doente por muitos meses e hoje comendo o que eu faço do meu jeito ou indo a restaurantes e falando com a minha boca o que eu quero e do jeito que eu quero, graças ao Bom Senhor eu nao tenho tomado nem remédio por meses ... Sorry, mas nao estou falando mentira nenhuma, voces mesmos ja leram post meu onde eu tava teclando do leito do hospital ....


Outra coisa que eu passei e que minha amiga estrangeira tambem passou foi a de entrar numa loja pra provar uma roupa e a vendedora avisar que nao era permitida a prova. Ela, assim como eu, nao entendera o que a vendedora falou e foi pro provador. E saiu de la com a vendedora aos gritos kkkkk Quando eu passei por isso estava com minha irma - que nao fala porra nenhuma em turco - e a vendedora pesando na dela. Coitada!

Ouvir que outro estrangeiro passou pelo mesmo embaraço me fez sentir menos idiota e encarar a coisa como uma parte do processo de aprendizado. E estou sujeita a passar mais vezes por isso, mas nao vou deixar isso destruir meu dia nao.
As queixas das estrangeiras casadas com turcos vao mais ou menos na mesma linha. E ouvir o que voce ja sabe de cor e salteado só faz você sentir mais raiva de tudo pelo que você vem passando.

Conversando com outra estrangeira que mora aqui há 20 anos me fez ter a certeza de que certas coisas nao irao mudar... mesmo! Ela disse que "apesar desse longo periodo tem coisas daqui que nao entram na cabeça dela de jeito nenhum."

Pra que queimar os miolos entao ? Hoje estou numa fase de tentar neutralizar essas coisas que me entristecem. O mundo nao vai ficar cor-de-rosa, eu sei. Mas ao menos vou manter minha pressao nos 12 x 8.

Beijos pra vocês e cuidem-se!