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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Papo com um turco que mora no Brasil e fala Português - papo cabeça, sem disputas Turquia x Brasil

Olá pessoal,

Eu postei dias atrás sobre as coisas das quais o meu marido mais se queixa aqui em São Paulo - não posso dizer "Brasil" porque o país é gigante e cheio de facetas. A correria e falta de tempo do paulistano não se aplica a quem mora em lugares mais pacatos - óbvio e ululante. Porém quando a gente se muda pra um lugar acha que o país se resume àquilo que vemos.

Esse fim de semana visitamos um casal - ela brasileira, ele turco - que nos enredaram num bate-papo bacana a ponto da gente perder a hora e quando se dar conta perceber que o metrô já ia encerrar as operações ...

- Ah, vocês podem dormir aqui!

E mesmo diante dos nossos protestos a anfitriã subiu no quarto e já trouxe uma camisola pra mim, o marido já veio com os lençóis e travesseiros e assim foi. Puxa, era a primeira vez que a gente tava indo visitar eles - especialmente ele, Ahmet, que estava com um problema no ombro e tinha passado por uns exames. Eu quem tinha tomado a iniciativa da visita "pois sei como é uma merda ficar doente no exterior"...

E conversa vai, conversa vem ele me pergunta sobre as coisas das quais eu menos gostei na Turquia. Num instante eu pensei em não responder à pergunta, porque isso já rendeu bate-boca com outros turcos antes, mas o semblante pacífico do meu interlocutor me encorajou, e a resposta que encabeçou minha lista foi a pimenta e a mania dos turcos de socar comida nos convidados (em breve farei um vídeo curto falando disso). Na lista seguiram "fofoca", "indiscrição", "mania de pôr panos quentes" ... e ele ouvia tudo numa boa e traduzia pra esposa - Alessandra. Não bateu boca, não retrucou com "ah mas vocês brasileiros também..." atravessando com alguma coisa que não vinha ao caso. Nada disso. Aliás alguns dos itens polêmicos ele mesmo quem me lembrou, rs.

Foi um debate limpo, sem ares de disputa pra ver quem é melhor. Tanto que depois ele comentou que "no Brasil as pessoas não gostam de receber visita, nas casas eu vejo apenas um sofá na sala".

Puts, pior que em casa só tem um sofá mesmo, mas onde eu moro é bem pequeno ...

E daí comentei: "olha, não tome São Paulo por Brasil. No Nordeste você encontra uma hospitalidade que rivaliza com a turca..." e ele ficou surpreso.

Mas isso do "único sofá nas casas" eu não tinha observado. Ele comentou de "quarto de hóspedes" também e isso rendeu uma reflexão mais profunda:

- em São Paulo as pessoas que conseguem comprar o próprio imóvel nos dias de hoje pagam os olhos da cara por um apê minúsculo onde mal cabe a família. Quarto de hóspedes? Só em sonho mesmo ...

- o povo trabalha tanto (o custo de vida aqui é absurdamente alto) muitas vezes fazendo hora extra que a empresa soca em bancos de horas que nunca são gozados e quando chega no fim de semana ninguém quer saber de se dar ao trabalho de receber visita (sim, é trabalhoso você maquiar a casa e providenciar tudo). Mais fácil "marcar" algo com a galera num restaurante, bar, shopping. Fora de casa. Em casa, só se for pra rachar uma pizza ou um churrasco no fds. E isso quando o bolso permite...

Um domingo com gente agradável renova as energias para a correria da semana. Obrigada Alessandra e Ahmet :-)

Isso não é regra. Há os que são mais caseiros e prefiram fazer coisas em casa (sai mais em conta também), mas uma das queixas do meu marido é a do povo que só contata via Whatsapp pra falar que "está na correria" e que nunca tem tempo pra te visitar.

Esse é um dos aspectos que nos impulsionou a querermos mudar para o interior. Mas isso é uma outra história.

Quem dera que debates interculturais como este fossem sempre assim, descontraídos. O que mais se vê são rodinhas dos respectivos grupos - de brasileiros na Turquia, de turcos no Brasil - metendo o pau no país e na sociedade anfitriã, nos costumes e cultura locais, numa discussão vazia onde todo mundo sai perdedor.

Entender os aspectos que regem um povo é o primeiro passo para frear essa hostilidade ao "diferente de mim". E te garanto: se você conseguir se comunicar com esse povo, daí você tem alguma chance de atingir essa compreensão. E quando eu falo em comunicação, digo literalmente: falar a língua dele ou dela, o turco falando Português no Brasil, o brasileiro falando Turco na Turquia. O Google Tradutor não vai te ajudar, e ficar lendo a enxurrada de queixas alheias nos grupos do Face ou canais do Youtube tão pouco. Bom mesmo é poder formar a própria opinião. :-)



Beijos da Luci